sábado, 27 de setembro de 2014

Um post parcial – sobre a busca à sagrada imparcialidade

Hoje em dia, tornou-se muito comum ouvir críticas a qualquer análise dizendo que é “parcial”, “tendenciosa”, etc. Muitas pessoas dizem que nem sequer darão ouvidos ou lerão uma determinada fonte de informação por esta ser “parcial”. Assim, resolvi realizar um exercício metacrítico e fazer uma análise das análises para entender melhor o problema da dicotomia “parcial X imparcial”. Para essa tarefa, pretendo contar o máximo que puder com o mero bom senso do leitor em vez de trazer informações de fora, pois, do contrário, poderiam dizer que as fontes escolhidas são tendenciosas e, portanto, toda a análise também o é. Em vez disso, não espero em nenhum momento que o leitor confie em mim ou nas informações que trarei, mas que acompanhe o raciocínio e análise e, ele próprio, decida se parecem sensatos e razoáveis ou não.
Dito isso, darei eu mesmo uma definição de “parcialidade” com a qual, espero, meus leitores concordarão: parcial é todo raciocínio que, onde haja mais de uma idéia possível, dá preferência a uma ou algumas em detrimento das restantes. Desse modo, temos inúmeros exemplos onde um raciocínio pode ser parcial: lamarckismo VS darwinismo; evolucionismo VS criacionismo; empirismo VS idealismo; escolher entre os candidatos A, B, C ou D para a presidência; entre tantas outras. Ou seja, um texto parcial seria aquele que, discutindo as teorias da evolução, mostra preferência ao darwinismo em relação ao lamarckismo, por exemplo.
Até aqui, não temos muitos problemas, pois o texto pode mostrar os argumentos de Lamarck e de Darwin, compará-los e chegar à conclusão de que os do segundo são mais sólidos. Terá havido, nesse caso, uma análise imparcial, ou melhor, feita com neutralidade e isenção. Contudo, a conclusão é parcial, pois considera uma teoria superior à outra. E não há nada de errado nisso.
O problema surge quando a análise não é feita com a citada neutralidade, ocorrendo uma "desonestidade intelectual" para se chegar a uma conclusão que pode não ser verdadeira. Para entendermos como isso acontece, primeiramente precisamos entender como os raciocínios funcionam para nos levar a uma conclusão. Podemos comparar os raciocínios com aqueles “jogos de ligar os pontos”, onde se vão traçando linhas ligando um ponto ao outro e, no fim, forma-se uma imagem, que corresponde à nossa conclusão. Assim, três coisas são necessárias nos raciocínios: 1) Informações; 2) Interpretação das informações; e 3) Conclusão.



Como funcionam os raciocínios

As informações são aquilo que observamos diretamente ou somos informados por alguém que observou diretamente (ou foi informado por outro, mas, em algum momento, alguém precisou observar diretamente antes de disseminar a informação). Um exemplo de informação é “está chovendo”, “o sinal está vermelho”, “10 pessoas morreram em um acidente”. Quando construímos uma análise, muitas vezes usamos muitas informações, como no caso da discussão sobre as teorias da evolução: Darwin observou fósseis de vários animais, observou a diferença na distribuição de animais e plantas em diferentes locais, etc.
Na comparação com os “jogos de ligar pontos”, as informações são os pontos, pois são a única coisa que podemos observar quando olhamos pela primeira vez para um problema. Ou seja, quando começamos o jogo, não sabemos quais linhas ligarão quais pontos, nem qual será a figura final, apenas vemos os pontos. O mesmo ocorre com as informações: quando observamos os fósseis, não sabemos qual a interpretação para essas informações, nem se a conclusão será mais favorável ao Lamarck ou ao Darwin. As informações são o ponto inicial, mas, sozinhas, não são suficientes, pois ainda precisam ser analisadas. Precisamos ligar os pontos.
Então, surge o segundo aspecto dos raciocínios: a interpretação das informações. A interpretação consiste em associar as informações de acordo com uma regra que as explique em conjunto. Ou seja, para interpretar as informações, precisamos observá-las e tentar imaginar uma relação entre elas, pois aí teremos conseguido descobrir uma informação que extrapola os meros casos observados. Por exemplo, se eu distribuo sucessivamente dois reais para uma pessoa e um real para outra, no fim, uma terá o dobro de dinheiro em relação à outra. Assim, a interpretação é o caminho inverso: descobrir que a razão para uma pessoa ter o dobro do dinheiro da outra é que, a princípio, uma recebia sucessivamente o dobro em relação à outra. Ou seja, interpretar significa pegar diferentes informações (João tem o dobro de dinheiro de Pedro) e estabelecer uma relação entre essas informações. Equivale, em nossa comparação com os “jogos de ligar pontos” a traçar uma linha entre os pontos. Será o conjunto de interpretações que nos permitirá, ao fim, chegar a uma conclusão, assim como o conjunto de linhas ligando os pontos nos possibilitará saber qual é a figura final.
No exemplo de Darwin, ele observou os fósseis e tentou relacionar essa informação com as diferentes distribuições de animais e plantas em diferentes localidades. Ele imaginou uma ligação entre essas informações, ou seja, ele realizou um traçado entre esses dois pontos. Algo similar aconteceu com Newton e sua teoria da gravidade. Ele observou a queda dos corpos na Terra e o comportamento dos astros no céu e tentou imaginar uma relação entre os dois fenômenos.
Depois de termos obtido informações e as interpretado, podemos chegar à conclusão. Ou seja, depois de termos ligados os pontos, observamos a figura que eles formam. Assim, a conclusão nos permite entender a razão por trás das informações, do mesmo modo que, vendo a figura formada, entendemos porque os pontos estão distribuídos de uma forma e não de outra. Assim, a conclusão de Darwin foi de que os animais evoluem em função da diversidade e da seleção natural: diferentes seres surgem e, assim, uns são mais bem adaptados que outros. Logo, os mais bem adaptados têm mais chances de sobreviver e se reproduzir, passando suas características adiante. Essa conclusão, sozinha, conseguia explicar uma maior quantidade de informações que a conclusão de Lamarck e, por isso, foi considerada melhor. Do mesmo modo, a conclusão de Newton sobre a atração universal dos corpos conseguia explicar, ao mesmo tempo, a queda dos corpos na Terra e o comportamento dos corpos celestes e, por isso, foi considerada melhor que a de Aristóteles. O mesmo vale para o exemplo de João e Pedro. Se tenho apenas a informação de que um possui mais dinheiro que o outro, posso imaginar várias explicações para isso. Mas se sei que João recebeu o dobro do dinheiro de Pedro e que João é amigo da pessoa responsável por essa distribuição, enquanto Pedro não é, então uma conclusão começa a se tornar cada vez mais clara: João está sendo injustamente favorecido pelo amigo. Isso não significa que essa conclusão seja verdadeira, mas quanto mais informações houver mostrando que o amigo de João sempre o favorece e sempre prejudica Pedro, então a conclusão será cada vez mais nítida.
Isso não significa que Lamarck ou Aristóteles não foram capazes de “ligar os pontos” entre as informações de que dispunham, mas as conclusões deles deixavam alguns pontos de fora. Como se, durante o “jogo de ligar os pontos” alguém deixasse de traçar uma linha entre determinados pontos. Ainda será possível ter uma idéia da imagem final, mas ela não será tão precisa quanto se ligarmos todos os pontos. E, obviamente, quanto mais pontos deixarem de ser ligados ou forem ligados de maneira incorreta, mais distorcida será a imagem final e mais difícil será descobrir o que a figura representa.
Até aqui falamos apenas sobre a forma correta de usar os raciocínios para se chegar à conclusão. Contudo, agora, veremos como tais fatores podem ser distorcidos para nos fazer pensar que uma conclusão é melhor que outra.



Como distorcer um raciocínio

Como vimos, se, após nosso raciocínio, concluímos que uma teoria é superior à outra, não estamos sendo imparciais: e não há nenhum problema nisso, desde que nossa análise tenha sido feita da maneira correta. Isso não impede, contudo, que posteriormente sejam descobertas novas informações ou novas interpretações que apontem outra conclusão como superior àquela que chegamos no princípio. O problema surge quando, deliberadamente, alguém distorce as informações ou as interpretações para favorecer uma conclusão em detrimento de outra.
A forma mais simples de fazer isso é agindo sobre as informações, tanto escondendo informações verdadeiras ou acrescentando informações falsas. É como se, no “jogo dos pontos”, alguém apagasse alguns pontos ou acrescentasse pontos falsos, para que, depois de traçadas as linhas, a imagem final fosse outra em vez da correta. Contudo, esse tipo de artifício nem sempre funciona adequadamente, pois a pessoa que está sendo enganada pode descobrir por conta própria as informações verdadeiras, restabelecendo os pontos que foram apagados e desconsiderando aqueles que são falsos. Isso tudo dependerá do acesso que cada um tem a essas informações. Portanto, é mais difícil distorcer informações que são de fácil acesso (por exemplo, aquelas observadas pela própria pessoa ou que são amplamente divulgadas).
Imaginemos, por exemplo, que alguém diz que ninguém morreu em um acidente, quando, na verdade, houve 10 mortos. A pessoa que está sendo enganada pode ter visto o acidente e visto os mortos. Mas, caso não tenha visto diretamente, pode haver reportagens em jornais divulgando o acidente e o número de vítimas fatais. Claro que as informações do jornal também podem estar erradas, mas, se estiverem, as testemunhas do acidente, os funcionários do hospital e da funerária, as famílias e amigos das vítimas, todos poderão dar as informações corretas e desmentir o jornal. Ou seja, quanto mais pessoas diferentes conhecerem a informação verdadeira, mais difícil é mentir sobre ela e mais facilmente a verdade virá à tona. Por isso, sempre são mais confiáveis aquelas informações que podemos verificar mais facilmente, de preferência diretamente, ou então que são conhecidas por várias fontes diferentes e independentes.
Em vista disso, nem sempre é uma estratégia bem sucedida tentar induzir alguém a uma conclusão errada por meio da adulteração de informações. Isso dependerá da facilidade que se tem para conferi-las. Portanto, a credibilidade de uma informação está intimamente relacionada à possibilidade de ser verificada. A ciência, por exemplo, usa isso mediante a idéia de “replicação” dos experimentos: ou seja, quando um cientista obtém um resultado ao fazer uma experiência, deve indicar como a experiência foi realizada, de modo que outros cientistas possam refazê-la e observarem se encontram os mesmos resultados. Caso a primeira experiência tenha sido uma fraude, os outros cientistas logo perceberão que ela está errada ao repetirem o experimento e acharem resultados diferentes.
Assim, voltando ao assunto da parcialidade e da desonestidade intelectual, devemos desconfiar daquelas informações que não podem ser verificadas: por exemplo, um relato pessoal que não pode ser comprovado por outras pessoas. Também devemos desconfiar das informações que são desmentidas por pessoas ou instituições independentes: por exemplo quando um jornal diz que morreram 10 pessoas em um acidente, mas as pessoas envolvidas e outros jornais dizem o contrário. E, por fim, devemos saber que, em vez de informações falsas, podem estar faltando informações. Nesse caso é mais difícil descobrir o problema, pois pode ser que todas as informações trazidas sejam verdadeiras, mas que estejam sendo omitidas outras informações igualmente verdadeiras. Assim, caso haja suspeita, é aconselhável procurar por conta própria informações complementares sobre o assunto. Nesse ponto, o fato de vivermos na Era da Internet nos favorece muito, pois na maioria das vezes é muito fácil obter informações que são omitidas dos textos que lemos.
Outra forma de induzir o leitor a uma conclusão errada é alterando a interpretação das informações. Esse procedimento é mais sutil e difícil de ser corrigido que a distorção das informações. Isso acontece porque, enquanto para sanar os fatos distorcidos basta procurarmos pelos fatos corretos ou adicionais, no caso das interpretações, nem sempre há onde procurar outras. As interpretações, como dito acima, são algo que está além das informações. Elas são uma forma de associar, organizar e dar um sentido às informações. Por isso, elas não são as próprias informações, mas algo que precisa ser criado para uni-las. Portanto, as interpretações são produzidas pela mente e não podem ser observadas diretamente, diferentemente das informações. Por um lado, ao nos depararmos com uma interpretação, podemos procurar pessoas ou veículos de mídia que apresentem outras interpretações para os mesmos fatos e, assim, podemos julgar qual nos parece mais plausível. Contudo, nem sempre essas interpretações alternativas existem e, então, ficamos à mercê da nossa própria capacidade de conseguir formar uma visão alternativa àquela que é apresentada.
Um exemplo disso ocorreu no caso da física newtoniana VS a física aristotélica. Aristóteles dava uma interpretação para os fatos observados, chegando a uma determinada conclusão. Como ninguém conseguia dar uma outra interpretação para esses mesmos fatos, a interpretação de Aristóteles era considerada a melhor. Não havia como recorrer a outra fonte em busca de uma outra explicação para os fenômenos observados. Isso só mudou quando Newton foi capaz de dar uma nova interpretação para os mesmos fatos observados por Aristóteles e, dessa vez, conseguindo explicar um maior número de informações e de maneira mais precisa. Logo, a explicação de Newton foi considerada superior. Assim, quando o assunto é difícil, muitas vezes não conseguimos nem sequer imaginar uma nova interpretação para os fatos e, por isso, acabamos acreditando na única, ou únicas, que encontramos.
Dessa maneira, existem duas formas de induzir alguém a uma interpretação: 1) Alterando as interpretações alternativas, seja escondendo-as ou distorcendo-as para parecem mais fracas do que são na realidade (similar ao que pode ser feito com as informações, mencionadas anteriormente); ou 2) Tornando o assunto difícil e confuso, para evitar que o leitor consiga formar as próprias interpretações e perceber falhas na que é apresentada.
Para resolver a primeira distorção, vale usar os mesmos recursos que são usados para o caso das distorções de informações, ou seja, pesquisar as interpretações que estejam sendo omitidas ou verificar se elas são exatamente como foram apresentadas, para verificar se houve uma alteração no seu conteúdo que as faça parecer piores do que são.
Mas, para o segundo caso, a solução é muito difícil, pois depende da capacidade do leitor de se desvencilhar das estratégias usadas para tornar o assunto mais difícil do que é. Essas estratégias consistem em usar vocabulário exageradamente rebuscado, usar jargões técnicos que são entendidos apenas pelos especialistas da área, usar linguagem exageradamente complexa, usar conceitos abstratos e vagos, etc.
Nesse caso, a solução é aprimorar a habilidade de leitura e interpretação de texto, buscar ampliar o vocabulário, familiarizar-se com textos complexos e informar-se sobre os termos técnicos usados. Isso não significa que a solução sempre funcionará, assim como nos casos anteriores também não podemos ter essa certeza, mas, ao menos, nos torna menos vulneráveis às tentativas de distorcer o raciocínio e nos induzir a uma determinada conclusão. Em alguns casos, como entre a física de Aristóteles e Newton, o assunto realmente era difícil e a solução do problema exigiu a genialidade de alguém como Newton ou Einstein para ser resolvido. Mas, na maioria dos casos, a análise crítica pode ser feita com qualquer pessoa que tenha cuidado, paciência e sensatez, evitando, assim, cair em armadilhas de raciocínios tendenciosos e parciais. Em geral a tentativa de tornar o texto mais difícil fica evidente quando outras pessoas conseguem abordar o assunto de maneira mais simples e clara. Então percebemos quem está tentando esconder falhas de argumentação atrás de recursos linguísticos.



Encontrando a imparcialidade

Com tudo que foi dito até aqui, pretendo dar uma resposta ao problema com que iniciei esse texto, isto é, sobre a alegação de que uma fonte de informação é “parcial” ou “tendenciosa” e, por isso, nem sequer deve ser lida. Em primeiro lugar, precisamos entender que dificilmente uma fonte será totalmente “imparcial”. Todo autor, mesmo bem intencionado, acabará deixando passar um pouco de sua posição para a argumentação. E, claro, há muitos que intencionalmente produzem textos tendenciosos. Contudo, isso não é justificativa para ignorar as informações trazidas, pois, como vimos acima, somos capazes de descobrir onde as distorções ocorrem e como corrigi-las. Assim, na verdade, o método mais eficaz para evitar a “parcialidade” é consultar um grande número de fontes diferentes e, de preferência, com idéias contrárias. Não há problema em ler uma fonte parcial, desde que recorramos a outras fontes, que também serão em maior ou menor grau parciais, mas que trazem outros pontos de vistas, de preferência discordantes entre si.
Em primeiro lugar, suponhamos que as fontes contrárias sejam tendenciosas e distorçam as informações. Como cada uma pretende chegar a conclusões diferentes, trarão informações diferentes. Assim, através da diversidade de fontes, podemos ver quais informações cada uma esconde e quais escolhem apresentar. E, como cada uma pretende induzir conclusões diferentes, esconderão justamente as informações que o outro pretende mostrar e vice-versa. Do mesmo modo, se trazem informações falsas, poderemos comparar essas informações entre os diferentes veículos e perceber que há algo errado, motivando-nos a pesquisar em outras fontes, buscando as mais confiáveis e, de preferência, buscando observar diretamente aquilo que é informado. Assim, quanto mais fontes diferentes e contrárias existirem trazendo as mesmas informações, mais confiáveis serão.
Quanto às interpretações, vale o mesmo. Consultar fontes diferentes e contrárias nos permite conhecer interpretações diferentes, de modo que não precisamos ter o trabalho, às vezes impossível, de criarmos a nossa própria interpretação alternativa. Assim, mesmo que alguém não seja capaz de pensar uma explicação alternativa para um fenômeno, pode analisar as explicações dadas por outras pessoas e ver quais parecem mais sensatas. Além disso, quanto mais fontes diferentes lemos, mais nos tornamos familiarizados com o assunto, permitindo que nos capacitemos a ter nossas próprias interpretações e a nos livrarmos com mais facilidade das estratégias usadas para nos induzir a interpretações tendenciosas.
Ou seja, não devemos deixar de ler fontes tendenciosas. Ao contrário, devemos ler todas e, de preferência, ler aquelas que têm visões opostas. Assim nós mesmos poderemos agir como juízes imparciais e avaliar quais merecem nossa credibilidade. Desse modo, não se pergunte se é melhor ler Veja ou Carta Capital. Leia a ambas e não apenas as duas: leia tantas outras fontes diferentes quanto possível. Analise as informações que cada uma traz e as informações que cada uma esconde. Procure essas e outras informações em fontes diferentes. Procure relatos pessoais e busque você mesmo observar os fatos, quando possível. Procure interpretações diferentes. Analise, pense, reflita. Busque você próprio criar as suas explicações. Assim, não precisará mais esperar por um veículo de informação totalmente imparcial. Todas as fontes têm suas preferências e um grau maior ou menor de distorções nos dados trazidos, mas isso não significa que não possamos ser capazes de analisar esses dados e descobrir onde as distorções estão e como corrigi-las. A solução está ao alcance de todos. 
Então, da próxima vez que você se deparar com algo que considera tendencioso, em vez de menosprezá-lo, leia, descubra quais são as distorções e onde estão localizadas e tente as corrigir. Mas, acima de tudo, faça também esse exercício com aquilo que você não considera tendencioso e sobre o qual deposita sua confiança. O resultado pode surpreender.



Adendo

Esse exercício de análise crítica pode ser feito com o próprio texto aqui escrito. Assim, não espero que alguém confie em mim, mas que analise as informações que trouxe e o raciocínio realizado e, então, vejam se merece credibilidade ou não e se está bem argumentado ou se há como refutá-lo. Tentei trazer poucas informações de fora, como disse no começo do texto. Com isso, espero ter evitado que o texto fosse contaminado por fontes que poderiam ser acusadas de tendenciosas logo no início. Em vez disso, apelei para o bom senso do leitor e espero ter produzido um texto simples, claro e fácil de ser entendido, para que qualquer pessoa possa compreendê-lo e formar sua própria opinião a respeito dele.

Devo ainda acrescentar que há outras maneiras de distorcer os raciocínios, sendo que as mencionadas me parecem ser as mais “honestas” formas de “desonestidade intelectual”, pois elas atuam sobre o próprio raciocínio. Ou seja, elas admitem a pertinência do debate racional, mas introduzem nele distorções para chegar a determinadas conclusões tendenciosas. Outras formas de ser “parcial” e “tendencioso” são mais perversas, pois não permitem nem sequer que se chegue ao debate de idéias, focando em ataques pessoas, desmerecimento da discussão racional e lógica, desvio do assunto, entre outros. Essas outras formas de distorções serão analisadas em textos específicos posteriormente.

Justificativa

A linguagem é uma das maiores invenções humanas, talvez a maior. Através dela conseguimos obter conhecimento adquiridos por outras pessoas, em outros lugares, em outros tempos. Quando surgiu, essa troca de informações ampliou enormemente o campo de conhecimento humano: não dependíamos mais daquilo que podíamos ver ou ouvir diretamente, mas podíamos receber relatos e imaginar o que foi visto e o que foi ouvido. Assim, transcendemos as limitações do tempo e espaço à aquisição de conhecimento.

Mas a linguagem não diz respeito apenas ao mundo externo. Também expressamos opiniões, sentimentos, emoções. Assim, como o mundo interno de cada um é acessível apenas a si mesmo, temos uma enorme quantidade de posições, opiniões e idéias, que recaem sobre nós mesmos, o mundo e tudo mais.

Então, cabe novamente à linguagem nos colocar em contato uns com os outros, de modo a compartilhar nossas visões e tentar, minimamente, dividir nossas idéias acerca do mundo que há à nossa volta e dentro de nós. Assim, como humanos, frequentemente conversamos, discutimos e debatemos.

Após alguns anos agindo dessa maneira, recebi o pedido de diversos amigos solicitando um local onde eu expressasse algumas reflexões de maneira mais formal e organizada. Chegamos, dessa forma, ao presente blog. Espero satisfazer o desejo daqueles que me solicitaram e acrescentar, o mínimo que seja, a essa magnífica ferramenta humana que é a linguagem e à troca de opiniões que ela possibilita.

Conversemos, então.