Hoje em dia,
tornou-se muito comum ouvir críticas a qualquer análise dizendo que é “parcial”,
“tendenciosa”, etc. Muitas pessoas dizem que nem sequer darão ouvidos ou lerão
uma determinada fonte de informação por esta ser “parcial”. Assim, resolvi
realizar um exercício metacrítico e fazer uma análise das análises para entender
melhor o problema da dicotomia “parcial X imparcial”. Para essa tarefa,
pretendo contar o máximo que puder com o mero bom senso do leitor em vez de
trazer informações de fora, pois, do contrário, poderiam dizer que as fontes
escolhidas são tendenciosas e, portanto, toda a análise também o é. Em vez
disso, não espero em nenhum momento que o leitor confie em mim ou nas
informações que trarei, mas que acompanhe o raciocínio e análise e, ele
próprio, decida se parecem sensatos e razoáveis ou não.
Dito isso,
darei eu mesmo uma definição de “parcialidade” com a qual, espero, meus
leitores concordarão: parcial é todo raciocínio que, onde haja mais de uma
idéia possível, dá preferência a uma ou algumas em detrimento das restantes.
Desse modo, temos inúmeros exemplos onde um raciocínio pode ser parcial:
lamarckismo VS darwinismo; evolucionismo VS criacionismo; empirismo VS idealismo;
escolher entre os candidatos A, B, C ou D para a presidência; entre tantas
outras. Ou seja, um texto parcial seria aquele que, discutindo as teorias da
evolução, mostra preferência ao darwinismo em relação ao lamarckismo, por exemplo.
Até aqui, não
temos muitos problemas, pois o texto pode mostrar os argumentos de Lamarck e de
Darwin, compará-los e chegar à conclusão de que os do segundo são mais sólidos.
Terá havido, nesse caso, uma análise imparcial, ou melhor, feita com
neutralidade e isenção. Contudo, a conclusão é parcial, pois considera uma teoria superior à
outra. E não há nada de errado nisso.
O problema surge
quando a análise não é feita com a citada neutralidade, ocorrendo uma "desonestidade intelectual" para se chegar a uma conclusão que pode não ser
verdadeira. Para entendermos como isso acontece, primeiramente precisamos
entender como os raciocínios funcionam para nos levar a uma conclusão. Podemos
comparar os raciocínios com aqueles “jogos de ligar os pontos”, onde se vão traçando
linhas ligando um ponto ao outro e, no fim, forma-se uma imagem, que
corresponde à nossa conclusão. Assim, três coisas são necessárias nos
raciocínios: 1) Informações; 2) Interpretação das informações; e 3) Conclusão.
Como funcionam
os raciocínios
As informações
são aquilo que observamos diretamente ou somos informados por alguém que
observou diretamente (ou foi informado por outro, mas, em algum momento, alguém
precisou observar diretamente antes de disseminar a informação). Um exemplo de
informação é “está chovendo”, “o sinal está vermelho”, “10 pessoas morreram em
um acidente”. Quando construímos uma análise, muitas vezes usamos muitas
informações, como no caso da discussão sobre as teorias da evolução: Darwin
observou fósseis de vários animais, observou a diferença na distribuição de
animais e plantas em diferentes locais, etc.
Na comparação
com os “jogos de ligar pontos”, as informações são os pontos, pois são a
única coisa que podemos observar quando olhamos pela primeira vez para um problema. Ou seja, quando
começamos o jogo, não sabemos quais linhas ligarão quais pontos, nem qual será
a figura final, apenas vemos os pontos. O mesmo ocorre com as informações:
quando observamos os fósseis, não sabemos qual a interpretação para essas
informações, nem se a conclusão será mais favorável ao Lamarck ou ao Darwin. As
informações são o ponto inicial, mas, sozinhas, não são suficientes, pois ainda
precisam ser analisadas. Precisamos ligar os pontos.
Então, surge o
segundo aspecto dos raciocínios: a interpretação das informações. A
interpretação consiste em associar as informações de acordo com uma regra que
as explique em conjunto. Ou seja, para interpretar as informações, precisamos
observá-las e tentar imaginar uma relação entre elas, pois aí teremos conseguido
descobrir uma informação que extrapola os meros casos observados. Por exemplo,
se eu distribuo sucessivamente dois reais para uma pessoa e um real para outra,
no fim, uma terá o dobro de dinheiro em relação à outra. Assim, a interpretação
é o caminho inverso: descobrir que a razão para uma pessoa ter o dobro do
dinheiro da outra é que, a princípio, uma recebia sucessivamente o dobro em
relação à outra. Ou seja, interpretar significa pegar diferentes informações (João tem o dobro de dinheiro de Pedro) e estabelecer uma relação entre
essas informações. Equivale, em nossa comparação com os “jogos de ligar pontos”
a traçar uma linha entre os pontos. Será o conjunto de interpretações que nos
permitirá, ao fim, chegar a uma conclusão, assim como o conjunto de linhas
ligando os pontos nos possibilitará saber qual é a figura final.
No exemplo de
Darwin, ele observou os fósseis e tentou relacionar essa informação com as
diferentes distribuições de animais e plantas em diferentes localidades. Ele
imaginou uma ligação entre essas informações, ou seja, ele realizou um traçado
entre esses dois pontos. Algo similar aconteceu com Newton e sua teoria da
gravidade. Ele observou a queda dos corpos na Terra e o comportamento dos
astros no céu e tentou imaginar uma relação entre os dois fenômenos.
Depois de
termos obtido informações e as interpretado, podemos chegar à conclusão. Ou
seja, depois de termos ligados os pontos, observamos a figura que eles formam.
Assim, a conclusão nos permite entender a razão por trás das informações, do mesmo modo
que, vendo a figura formada, entendemos porque os pontos estão distribuídos de
uma forma e não de outra. Assim, a conclusão de Darwin foi de que os animais
evoluem em função da diversidade e da seleção natural: diferentes seres surgem
e, assim, uns são mais bem adaptados que outros. Logo, os mais bem adaptados
têm mais chances de sobreviver e se reproduzir, passando suas características
adiante. Essa conclusão, sozinha, conseguia explicar uma maior quantidade de
informações que a conclusão de Lamarck e, por isso, foi considerada melhor. Do
mesmo modo, a conclusão de Newton sobre a atração universal dos corpos
conseguia explicar, ao mesmo tempo, a queda dos corpos na Terra e o
comportamento dos corpos celestes e, por isso, foi considerada melhor que a de
Aristóteles. O mesmo vale para o exemplo de João e Pedro. Se tenho apenas a informação de que um possui mais dinheiro que o outro, posso imaginar várias explicações para isso. Mas se sei que João recebeu o dobro do dinheiro de Pedro e que João é amigo da pessoa responsável por essa distribuição, enquanto Pedro não é, então uma conclusão começa a se tornar cada vez mais clara: João está sendo injustamente favorecido pelo amigo. Isso não significa que essa conclusão seja verdadeira, mas quanto mais informações houver mostrando que o amigo de João sempre o favorece e sempre prejudica Pedro, então a conclusão será cada vez mais nítida.
Isso não
significa que Lamarck ou Aristóteles não foram capazes de “ligar os pontos”
entre as informações de que dispunham, mas as conclusões deles deixavam alguns
pontos de fora. Como se, durante o “jogo de ligar os pontos” alguém deixasse de
traçar uma linha entre determinados pontos. Ainda será possível ter uma idéia
da imagem final, mas ela não será tão precisa quanto se ligarmos todos os
pontos. E, obviamente, quanto mais pontos deixarem de ser ligados ou forem
ligados de maneira incorreta, mais distorcida será a imagem final e mais difícil
será descobrir o que a figura representa.
Até aqui
falamos apenas sobre a forma correta de usar os raciocínios para se chegar à
conclusão. Contudo, agora, veremos como tais fatores podem ser distorcidos para
nos fazer pensar que uma conclusão é melhor que outra.
Como distorcer
um raciocínio
Como vimos, se,
após nosso raciocínio, concluímos que uma teoria é superior à outra, não
estamos sendo imparciais: e não há nenhum problema nisso, desde que nossa
análise tenha sido feita da maneira correta. Isso não impede, contudo, que posteriormente sejam descobertas novas informações ou novas interpretações
que apontem outra conclusão como superior àquela que chegamos no princípio.
O problema surge quando, deliberadamente, alguém distorce as informações ou as
interpretações para favorecer uma conclusão em detrimento de outra.
A forma mais
simples de fazer isso é agindo sobre as informações, tanto escondendo
informações verdadeiras ou acrescentando informações falsas. É como se, no “jogo
dos pontos”, alguém apagasse alguns pontos ou acrescentasse pontos falsos, para
que, depois de traçadas as linhas, a imagem final fosse outra em vez da correta.
Contudo, esse tipo de artifício nem sempre funciona adequadamente, pois a
pessoa que está sendo enganada pode descobrir por conta própria as informações
verdadeiras, restabelecendo os pontos que foram apagados e desconsiderando
aqueles que são falsos. Isso tudo dependerá do acesso que cada um tem a essas
informações. Portanto, é mais difícil distorcer informações que são de fácil
acesso (por exemplo, aquelas observadas pela própria pessoa ou que são
amplamente divulgadas).
Imaginemos, por
exemplo, que alguém diz que ninguém morreu em um acidente, quando, na verdade,
houve 10 mortos. A pessoa que está sendo enganada pode ter visto o acidente e
visto os mortos. Mas, caso não tenha visto diretamente, pode haver reportagens
em jornais divulgando o acidente e o número de vítimas fatais. Claro que as
informações do jornal também podem estar erradas, mas, se estiverem, as
testemunhas do acidente, os funcionários do hospital e da funerária, as
famílias e amigos das vítimas, todos poderão dar as informações corretas e
desmentir o jornal. Ou seja, quanto mais pessoas diferentes conhecerem a
informação verdadeira, mais difícil é mentir sobre ela e mais facilmente a
verdade virá à tona. Por isso, sempre são mais confiáveis aquelas informações
que podemos verificar mais facilmente, de preferência diretamente, ou então que são conhecidas por várias fontes diferentes e independentes.
Em vista disso,
nem sempre é uma estratégia bem sucedida tentar induzir alguém a uma conclusão
errada por meio da adulteração de informações. Isso dependerá da facilidade que
se tem para conferi-las. Portanto, a credibilidade de uma informação está
intimamente relacionada à possibilidade de ser verificada. A ciência, por
exemplo, usa isso mediante a idéia de “replicação” dos experimentos: ou seja,
quando um cientista obtém um resultado ao fazer uma experiência, deve indicar
como a experiência foi realizada, de modo que outros cientistas possam
refazê-la e observarem se encontram os mesmos resultados. Caso a primeira
experiência tenha sido uma fraude, os outros cientistas logo perceberão que ela
está errada ao repetirem o experimento e acharem resultados diferentes.
Assim, voltando
ao assunto da parcialidade e da desonestidade intelectual, devemos desconfiar
daquelas informações que não podem ser verificadas: por exemplo, um relato
pessoal que não pode ser comprovado por outras pessoas. Também devemos
desconfiar das informações que são desmentidas por pessoas ou instituições
independentes: por exemplo quando um jornal diz que morreram 10 pessoas em um
acidente, mas as pessoas envolvidas e outros jornais dizem o contrário. E, por
fim, devemos saber que, em vez de informações falsas, podem estar faltando
informações. Nesse caso é mais difícil descobrir o problema, pois pode ser que todas as informações trazidas sejam verdadeiras, mas que estejam sendo omitidas outras informações igualmente verdadeiras. Assim, caso haja suspeita, é aconselhável procurar por conta própria
informações complementares sobre o assunto. Nesse ponto, o fato de vivermos na
Era da Internet nos favorece muito, pois na maioria das vezes é muito fácil
obter informações que são omitidas dos textos que lemos.
Outra forma de
induzir o leitor a uma conclusão errada é alterando a interpretação das
informações. Esse procedimento é mais sutil e difícil de ser corrigido que a
distorção das informações. Isso acontece porque, enquanto para sanar os fatos
distorcidos basta procurarmos pelos fatos corretos ou adicionais, no caso das
interpretações, nem sempre há onde procurar outras. As interpretações, como dito
acima, são algo que está além das informações. Elas são uma forma de associar,
organizar e dar um sentido às informações. Por isso, elas não são as próprias
informações, mas algo que precisa ser criado para uni-las. Portanto, as
interpretações são produzidas pela mente e não podem ser observadas
diretamente, diferentemente das informações. Por um lado, ao nos depararmos com
uma interpretação, podemos procurar pessoas ou veículos de mídia que apresentem
outras interpretações para os mesmos fatos e, assim, podemos julgar qual nos
parece mais plausível. Contudo, nem sempre essas interpretações alternativas
existem e, então, ficamos à mercê da nossa própria capacidade de conseguir
formar uma visão alternativa àquela que é apresentada.
Um exemplo
disso ocorreu no caso da física newtoniana VS a física aristotélica.
Aristóteles dava uma interpretação para os fatos observados, chegando a uma
determinada conclusão. Como ninguém conseguia dar uma outra interpretação para
esses mesmos fatos, a interpretação de Aristóteles era considerada a melhor.
Não havia como recorrer a outra fonte em busca de uma outra explicação para os
fenômenos observados. Isso só mudou quando Newton foi capaz de dar uma nova
interpretação para os mesmos fatos observados por Aristóteles e, dessa vez,
conseguindo explicar um maior número de informações e de maneira mais precisa.
Logo, a explicação de Newton foi considerada superior. Assim, quando o assunto
é difícil, muitas vezes não conseguimos nem sequer imaginar uma nova interpretação
para os fatos e, por isso, acabamos acreditando na única, ou únicas, que
encontramos.
Dessa maneira,
existem duas formas de induzir alguém a uma interpretação: 1) Alterando as
interpretações alternativas, seja escondendo-as ou distorcendo-as para parecem
mais fracas do que são na realidade (similar ao que pode ser feito com as
informações, mencionadas anteriormente); ou 2) Tornando o assunto difícil e
confuso, para evitar que o leitor consiga formar as próprias interpretações e
perceber falhas na que é apresentada.
Para resolver a
primeira distorção, vale usar os mesmos recursos que são usados para o caso das
distorções de informações, ou seja, pesquisar as interpretações que estejam
sendo omitidas ou verificar se elas são exatamente como foram apresentadas, para
verificar se houve uma alteração no seu conteúdo que as faça parecer piores do
que são.
Mas, para o
segundo caso, a solução é muito difícil, pois depende da capacidade do leitor
de se desvencilhar das estratégias usadas para tornar o assunto mais difícil do
que é. Essas estratégias consistem em usar vocabulário exageradamente
rebuscado, usar jargões técnicos que são entendidos apenas pelos especialistas
da área, usar linguagem exageradamente complexa, usar conceitos abstratos e
vagos, etc.
Nesse caso, a
solução é aprimorar a habilidade de leitura e interpretação de texto, buscar
ampliar o vocabulário, familiarizar-se com textos complexos e informar-se sobre
os termos técnicos usados. Isso não significa que a solução sempre funcionará,
assim como nos casos anteriores também não podemos ter essa certeza, mas, ao
menos, nos torna menos vulneráveis às tentativas de distorcer o raciocínio e nos induzir a uma determinada conclusão. Em alguns casos, como entre a
física de Aristóteles e Newton, o assunto realmente era difícil e a solução do
problema exigiu a genialidade de alguém como Newton ou Einstein para ser
resolvido. Mas, na maioria dos casos, a análise crítica pode ser feita com
qualquer pessoa que tenha cuidado, paciência e sensatez, evitando, assim, cair
em armadilhas de raciocínios tendenciosos e parciais. Em geral a tentativa de tornar o texto mais difícil fica evidente quando outras pessoas conseguem abordar o assunto de maneira mais simples e clara. Então percebemos quem está tentando esconder falhas de argumentação atrás de recursos linguísticos.
Encontrando a
imparcialidade
Com tudo que
foi dito até aqui, pretendo dar uma resposta ao problema com que iniciei esse
texto, isto é, sobre a alegação de que uma fonte de informação é “parcial” ou “tendenciosa”
e, por isso, nem sequer deve ser lida. Em primeiro lugar,
precisamos entender que dificilmente uma fonte será totalmente “imparcial”. Todo autor, mesmo bem intencionado, acabará deixando passar um pouco de sua posição para a argumentação. E, claro, há muitos que intencionalmente produzem textos tendenciosos. Contudo, isso não é justificativa para ignorar as
informações trazidas, pois, como vimos acima, somos capazes de descobrir onde
as distorções ocorrem e como corrigi-las. Assim, na verdade, o método mais
eficaz para evitar a “parcialidade” é consultar um grande número de fontes
diferentes e, de preferência, com idéias contrárias. Não há problema em ler uma fonte parcial, desde que recorramos a outras fontes, que também serão em maior ou menor grau parciais, mas que trazem outros pontos de vistas, de preferência discordantes entre si.
Em primeiro
lugar, suponhamos que as fontes contrárias sejam tendenciosas e distorçam as
informações. Como cada uma pretende chegar a conclusões diferentes, trarão
informações diferentes. Assim, através da diversidade de fontes, podemos ver quais informações cada uma esconde e quais escolhem apresentar. E, como cada uma pretende induzir conclusões diferentes, esconderão
justamente as informações que o outro pretende mostrar e vice-versa. Do mesmo
modo, se trazem informações falsas, poderemos comparar essas informações entre
os diferentes veículos e perceber que há algo errado, motivando-nos a pesquisar
em outras fontes, buscando as mais confiáveis e, de preferência, buscando
observar diretamente aquilo que é informado. Assim, quanto mais fontes
diferentes e contrárias existirem trazendo as mesmas informações, mais
confiáveis serão.
Quanto às
interpretações, vale o mesmo. Consultar fontes diferentes e contrárias nos
permite conhecer interpretações diferentes, de modo que não precisamos ter o
trabalho, às vezes impossível, de criarmos a nossa própria interpretação
alternativa. Assim, mesmo que alguém não seja capaz de pensar uma explicação
alternativa para um fenômeno, pode analisar as explicações dadas por outras
pessoas e ver quais parecem mais sensatas. Além disso, quanto mais fontes diferentes lemos, mais nos tornamos familiarizados com o
assunto, permitindo que nos capacitemos a ter nossas próprias interpretações e
a nos livrarmos com mais facilidade das estratégias usadas para nos induzir a
interpretações tendenciosas.
Ou seja, não
devemos deixar de ler fontes tendenciosas. Ao contrário, devemos ler todas e,
de preferência, ler aquelas que têm visões opostas. Assim nós mesmos poderemos agir
como juízes imparciais e avaliar quais merecem nossa credibilidade. Desse modo,
não se pergunte se é melhor ler Veja ou Carta Capital. Leia a ambas e não
apenas as duas: leia tantas outras fontes diferentes quanto possível. Analise
as informações que cada uma traz e as informações que cada uma esconde. Procure
essas e outras informações em fontes diferentes. Procure relatos pessoais e busque você mesmo observar os fatos, quando possível. Procure interpretações
diferentes. Analise, pense, reflita. Busque você próprio criar as suas
explicações. Assim, não precisará mais esperar por um veículo de informação totalmente
imparcial. Todas as fontes têm suas preferências e um grau maior ou menor de
distorções nos dados trazidos, mas isso não significa que não possamos ser
capazes de analisar esses dados e descobrir onde as distorções estão e como corrigi-las.
A solução está ao alcance de todos.
Então, da próxima vez que você se deparar com algo que considera tendencioso, em vez de menosprezá-lo, leia, descubra quais são as distorções e onde estão localizadas e tente as corrigir. Mas, acima de tudo, faça também esse exercício com aquilo que você não considera tendencioso e sobre o qual deposita sua confiança. O resultado pode surpreender.
Adendo
Esse exercício
de análise crítica pode ser feito com o próprio texto aqui escrito. Assim, não
espero que alguém confie em mim, mas que analise as informações que trouxe e o
raciocínio realizado e, então, vejam se merece credibilidade ou não e se está
bem argumentado ou se há como refutá-lo. Tentei trazer poucas informações de
fora, como disse no começo do texto. Com isso, espero ter evitado que o texto
fosse contaminado por fontes que poderiam ser acusadas de tendenciosas logo no
início. Em vez disso, apelei para o bom senso do leitor e espero ter produzido
um texto simples, claro e fácil de ser entendido, para que qualquer pessoa
possa compreendê-lo e formar sua própria opinião a respeito dele.
Devo ainda
acrescentar que há outras maneiras de distorcer os raciocínios, sendo que as
mencionadas me parecem ser as mais “honestas” formas de “desonestidade
intelectual”, pois elas atuam sobre o próprio raciocínio. Ou seja, elas admitem
a pertinência do debate racional, mas introduzem nele distorções para chegar a
determinadas conclusões tendenciosas. Outras formas de ser “parcial” e “tendencioso”
são mais perversas, pois não permitem nem sequer que se chegue ao debate de
idéias, focando em ataques pessoas, desmerecimento da discussão racional e
lógica, desvio do assunto, entre outros. Essas outras formas de distorções
serão analisadas em textos específicos posteriormente.